Coluna da Madalena

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PERNALONGA:

Não tinha corrida de F1 domingo. Mas, levantei, cedo. Caminhei, andei de bicicleta. Meu objetivo era ver a final dos 100 mts rasos, do mundial de Berlim, à tarde. Afinal, é a prova mais tradicional e charmosa do atletismo. Rivaliza em importância somente com a maratona. Era a atração de domingo.
A minha expectativa era grande. Queria ver cair mais um recorde, ver consagrado mais um superatleta. Reforçar a tese de que vivo numa época especial, privilegiada. Um desfile constante de grandes desportistas passando a minha frente, na tela, na minha casa. Muitos já familiares ao meu convívio.
Com a chegada da tarde, veio à semifinal. Ali estava, o recordista mundial da prova, Usain Bolt, um jamaicano completamente irreverente, confiante, engraçado, com físico pouco habitual para a velocidade dos 100 mts. Aliás, corpo que contraria por completo o biótipo dos antigos recordistas, todos atarracados, cheios de músculos. Ele, magro, esguio, pernas longas. Passadas largas. Rápido e esperto como a figura do desenho animado. (***)
Classificou-se com extrema facilidade, deixando claro que poderia superar o seu recorde (9,69s, em Pequim). Marca que foi conquistada com um misto de irreverência e irresponsabilidade, já que se deu ao luxo de comemorar, batendo no peito e perdendo velocidade, muito antes da linha de chegada.
O momento mais aguardado no meu domingo chegou por volta das 16h30min. Larguei o jogo do Grêmio. Larguei a Nascar. Quando me dei de conta estava sozinho em casa, repetindo o que já faço a muitos anos, frente à televisão, nas largadas da F1: de joelhos. Olhos grudados na tela; deu tempo de limpar os óculos para facilitar a visão prejudicada pelo alto grau de miopia. Não queria perder nenhum detalhe.
Oito velocistas. Todos com tempos abaixo dos 10segundos. Coisa que era inacreditável, quando - anos atrás - eu comecei a gostar tanto de esportes.
Largaram! Gritei: - Vai, vai, vai... Com receio de não ver o novo recorde, por força de mais uma travessura do jamaicano. Gritei: - Não para, não para... E não deu mais tempo para nada. Já havia se passados exatos 9,58 segundos.
Novo recorde mundial. Quase a certeza de que este tempo cairá, facilmente, breve. O meu domingo foi completo. Apesar de ter durado menos de dez segundos.

*** PERNALONGA é um coelho do desenho animado, apaixonado por cenouras e, sempre engraçado e confiante, em vez de fugir, enfrenta seus adversários, pois é muito esperto.

PS.: USAIN BOLT acaba de bater, também, o recorde dos 200 mts. Com o tempo inacreditável de 19.19 segundos. Certamente, assisti a prova de joelhos.

URUGUAIANA, 19/20 DE AGOSTO DE 2009.

VICENTE MAJÓ DA MAIA, ADVOGADO, JORNALISTA, RADIALISTA E DOENTE POR ESPORTES.