Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: novembro 2022

24 de nov. de 2022

Sem arco-íris no céu, o sonho do asfalto - Fábula Fabulosa de Valéria del Cueto

Sem arco-íris no céu, o sonho do asfalto

Texto e foto de Valéria del Cueto

Pausa no corre da COP27 à Copa do Mundo e, depois, Natal nesse mundo de seu Deus. Porque meu, ele não é. Se fosse, tinha deixado a casta extraterrestre fora dessa mixórdia que grassa por aqui.

Já devia ter mencionado, mas faltou espaço na mensagem anterior. Sabemos que ele é limitado para não causar cortes na transmissão pelo raio de luar que passa pela janela invade sua cela. É o preço de sua reclusão voluntária do outro lado do túnel, cronista.

O tempo de contato está cada vez mais curto para a quantidade de informações. Foi por isso que omiti na última missiva os objetos avistados durante vários dias nas rotas aéreas do Sudeste para Porto Alegre. Tem tanta coisa (ainda) acontecendo…

Coisas terrenas nada espaciais. Uma delas, inclusive, captada graças ao nosso contato osmótico. Quantas informações ele agregou ao banco intergaláctico de dados da nave mãe. Como definir “Perdeu, mané”? De New York, onde o Ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal, lascou a expressão respondendo a assediadores na entrada de um compromisso, às quebradas coloquiais! Confesso que passei por Florianópolis, onde “manezinhos” são os locais. Barroso se referia aos manés que se recusam a entender que depois de jogo feito e a pedra vencedora cantada o que resta é esperar a próxima rodada.

É nessa levada alucinada que a sintonia foi mudando. De Vandré e “Pra não dizer que não falei das flores”, numa utilização equivocada da canção da esquerda (eles dizem esquerdista, lado oposto de direitista) passaram a arranhar o disco das paradas militares nos acampamentos nos QGs. Hinos Nacional, à Bandeira, da Independência, Exército, Marinha, Aeronáutica e até o hino da FEB, que foi à Itália lutar contra o nazismo e o fascismo!

A movimentação persiste e fica violenta nos bloqueios e interdições nas estradas. Isso mesmo, nas federais. Amiga, que crueldade! Atrapalharam os alunos que estavam indo fazer o ENEM. Mascarados queimaram ambulância e depredaram a base da Rota do Oeste. Sinto muito informar que Mato Grosso desponta no ranking do terrorismo, junto com Santa Catarina.

O agro e cia, realmente, são pops. Vários “organizadores” estão com suas contas bloqueadas.  E tem reação.  Sabe o véio que se veste de periquito? Acaba de anunciar o término de todos os contratos esportivos. O maior dele com o Flamengo.

Sei que a notícia a deixa feliz. Já posso pensar em providenciar uma nova camisa do time do seu coração? Lembro que quando sugeri o presente, a resposta foi: “Com essa logo não se dê ao trabalho. Não troco a minha Lubrax/Petrobrás por uma marca qualquer”.

Bom, já que estamos no quesito esportivo, pluctplacteio direto para Qatar e a Copa do Mundo de Futebol. Sem cerveja, poucas mulheres e onde o arco-íris não existe (talvez porque não chova?). Ele não pôde tremular nem na bandeira de Pernambuco, arrancada das mãos de um jornalista de Recife.

Loucura, cronista, logo no início da competição. Uma delas. Outra, veio com o resultado da primeira rodada do torneio onde a Argentina, de Messi, estreou perdendo de virada para a Arábia Saudita. O sheik até declarou feriado no país. Parece miragem do deserto, truque da imaginação?

Ou fake News como a do delírio coletivo de Porto Alegre onde um grupo vestido de verde a amarelo formou uma roda e, colocando celulares na cabeça fazia as lanternas piscarem. Diz que era uma gravação com um drone. Teve quem dissesse que estavam tentando um contato imediato para pedir ajuda contra a “ameaça comunista” do presidente legitimamente eleito aos generais intergalácticos.

A cena rodou o mundo, mas não sensibilizou as esferas superiores. Sem “pescarem” a desinformação, veio a resposta do céu baseada no livro de Deus (o seu): “A verdade vos libertará, mas depois do hexa do país do futebol”.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com


Studio na Colab55

8 de nov. de 2022

A Porta da Esperança, Fabula Fabulosa de Valéria del Cueto


A Porta da Esperança

Texto e foto de Valéria del Cueto

Querida cronista. Finalmente o céu clareou permitindo que o raio de luar encarregado de transportar nossas mensagens pela janela iluminasse o interior de sua cela do outro lado do túnel. Temporal, ó temporais, chuva fina, chuva grossa e até neve, fato sem registro anterior para o início de novembro.

Melhor assim, diante dos incríveis acontecimentos que venho contar. Antes de mais nada, deixo claro que aqui não há um único desvario ou delírio. Afinal, quem está voluntariamente nessa cela não sou eu, é você.

Fica o registro juramentado, por meus poderes intergalácticos de extraterrestre, que reportarei apenas a verdade e que não tomei água oferecida nos bloqueios e manifestações que percorri, o que parece ter provocado alterações significativas no comportamento dos revoltosos que, em nome da liberdade, pediam (juro que é verdade) intervenção militar no governo do presidente. Aquele que fizeram o (im)possível para ver reeleito.

Leia de novo o último parágrafo, por favor, estimada amiga. E vamos ao início do capítulo que, depois de tantas peripécias poderia até se tornar um tomo completo. Um livro inteiro em episódios burlescos, com um enredo rocambolesco coroado por um final cheio de falsas premissas decepcionantes para seus aloprados protagonistas.

Pode me elogiar, cara cronista, pela erudição e a falsa modéstia. Nasceram das sementes que você plantou quando me acolheu na minha chegada ao planeta Terra. Um extraterrestre de passagem, preso na atmosfera poluída e, consequentemente, sem propulsão para ultrapassar a camada de ozônio pluctplacteando ao léu mundo a fora. Lição número um: esse planeta não é para amadores! O Brasil então...

Já aticei sua curiosidade? Nada do que imaginar chegará próximo dos acontecimentos ocorridos e fartamente registrados. Começando pelo dia da votação do segundo turno.

Tudo normal até o registro da passagem de uma eleitora, cujo voto não indaguei por ser secreto, pela moldura da imagem que ilustra essa mensagem. Como uma porta da esperança, sabe? Uma previsão como tantas outras. Essa, do que está por vir.

Com uma fluidez que não se verificou no primeiro turno e sem atropelos a votação transcorreu na calmaria. O resultado apertado de 50,9 a 49,1 para Lula foi anunciado e rapidamente confirmado pelas autoridades constituídas. Menos... pelo presidente da República. Que emudeceu.

Seu silêncio serviu de fermento no bolo que se formou na garganta de seus seguidores derrotados. Foram às ruas e estradas e nelas amanheceram segunda-feira bloqueando rodovias em surto coletivo. Marcharam, oraram e brigaram enquanto a Policia Rodoviária Federal fazia a egípcia nas vias de abastecimento de todo o país. Foram mais de 1.050 bloqueios.

Quem conseguiu começar a liberar os gargalos, acredite, foram as torcidas organizadas. Abriram os caminhos ao se locomoverem para as partidas de futebol fora de casa no feriado de finados.

Mesmo com o fim da afonia presidencial os manifestantes verde e amarelos bandeira não arrefeceram o pedido de intervenção militar. Também, com tantas notícias falsas disseminadas pela rede de informações dos insurgentes, como acreditar num combalido capitão, vestido de Zelenskyy, pedindo os desbloqueios? Depois de anunciada e muito comemorada, entre outras coisas, a prisão de Xandão, o presidente do TSE, demorou um tempo para uma troca de estratégia.

Agora, fazem manifestações exigindo a quebra da constitucionalidade nos portões dos QGs militares. Repito: pedem intervenção militar! O que pressupõe o fim do governo que votaram para continuar. E perderam.

Tudo isso com os deuses da meteorologia despejando muita água e frio país a fora. Uma loucura coletiva onde, entre rezas, penitências e saudações nazistas, cantaram o Hino Nacional fazendo continência a um... pneu!

O raio de luar está por um fio, mas preciso de um espaço extra para registrar dois fatos que marcaram o período. Carla Zambelli, a parlamentar, correndo com uma arma pelas ruas de São Paulo atrás de um eleitor que declarou na véspera do pleito a ela “Te amo, espanhola”, é um deles. O outro “evento” é um caminhão com um abilolado de amarelo colado no gradil frontal em alta velocidade. O motorista querendo passar e o empresário Júnior Cesar Peixoto “grudou” no veículo. O caminhoneiro, louco para ver os filhos, tocou em frente. Verdade ou não, dizem os memes que o parvo foi visto até em Marte.

Posso garantir que não desembarcou na Lua. O dragão de São Jorge negou guarida soltando fogo pelas ventas simbolicamente enrolado no manto vermelho do santo. Lá, Lula ganhou com 2 votos. Deu 100% na urna lunar, a dos poetas, seresteiros e namorados!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55