Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: fevereiro 2024

16 de fev. de 2024

Alafiou! Jogo aberto nos 40 anos da Sapucaí. A Viradouro leva o título. Por Valéria del Cueto

Jogo aberto e a Viradouro leva o título

Alafiou! Jogo aberto nos 40 anos da Sapucaí.
A Viradouro leva o título.

Texto e fotos  Valéria del Cueto

Adivinha? Apesar das previsões de Esmeralda, a cigana leopoldinense em busca do bicampeonato, os búzios do jogo caíram todos abertos do outro lado da ponte, em Niterói. Assim estavam os caminhos da Viradouro em seu desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro no carnaval 2024, o dos 40 anos do Sambódromo.

Leandro Vieira esteve próximo da vitória durante 24 horas. A escola de Ramos foi a última a desfilar no raiar do primeiro dia de disputa. Manteve o favoritismo até a madrugada seguinte quando as guerreiras voduns do carnavalesco Tarcísio Zanon se apossaram da Marquês de Sapucaí. Não teve pra ninguém. Nem na bolha carnavalesca das redes sociais, nem na leitura das notas dos jurados. A escola terminou com um ponto à frente da vice-campeã.

A luz do amanhecer valorizando o conjunto alegórico da Imperatriz
Ambas se valeram da luz do amanhecer para emoldurarem seus vaticínios e enriquecerem as palhetas de cores dos enredos. A luz cenográfica, turbinada por tintas e tecidos fluorescentes, mudou o visual do espetáculo. A novidade escondeu ainda mais o povo do samba, já mascarado por efeitos de maquiagem. Também derrubou quem não soube utilizar os recursos.
Brasilidade tropical explícita na Mocidade.

Foi a ambientação, por exemplo, que penalizou a Vila e a Portela na apresentação dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. No caso da Vila com um agravante.  Paulo Barros depois de tocar fogo na porta-bandeira Lucinha Lins tempos atrás na Mocidade e, ano passado, vestir o casal na pista, apagou a apresentação do pavilhão e colocou no lugar lasers multicoloridos acoplados nas vestimentas do casal da terra de Noel Rosa. Perdeu décimos preciosos, junto com o samba de Martinho da Vila(!) e o enredo de Oswaldo Jardim.

Maria Bethânia pede passagem. Homenagem a Alcione na Mangueira.

As justificativas exporão os critérios dos julgadores que deixaram de fora das campeãs a Mangueira, homenageando Alcione (perdeu no quesito de desempate, fantasia, a sexta posição), a Beija-Flor com Maceió, e acharam cica no caju tropical da Mocidade em vários quesitos incluindo o enredo, tão original, e... o samba! A Porto da Pedra teve passagem fugaz pelo Grupo e volta para o Ouro de onde sobe a campeã Unidos de Padre Miguel.

 

DESFILE DAS CAMPEÃS – Vila, Portela, Salgueiro, Grande Rio, Imperatriz e Viradouro.

Na Vila, só alas de comunidade, o chão de Noel.
A reedição da Vila de "Gbalá", enredo de Oswaldo Jardim de 1993, abre a noite das Campeãs trazendo o axé das crianças salvando o planeta ao realimentar as energias de Xangô ao som da bateria de Mestre Macaco Branco e o lindo samba de Martinho da Vila canetado em 2 décimos.

O tempo passa, o “defeito de cor” permanece. Marinete Franco e outras mães relembram suas dores.
A Portela a volta às campeãs depois de ficar de fora no ano de seu centenário. O enredo “Um defeito de cor” conseguiu mais um recorde carnavalesco. O livro de Ana Maria Gonçalvez se esgotou na gigante Amazon! Que rapidamente repôs o estoque do fenômeno literário.  


Vida na tribo Yanomami, janela aberta para o mundo pelo Salgueiro 

O Salgueiro é a primeira das três agremiações que desfilaram na noite de domingo a retornar a avenida. “Hutukara” trará de volta o casal Marcella Alves e Sidcley. Assim como os casais da Imperatriz, Grande Rio e Mangueira, eles gabaritaram no quesito mestre-sala e porta-bandeira. Dos quatro, o único que não se apresenta no sábado é Cintya Santos e Matheus Olivério, da verde e rosa.
A onça da Comissão de Frente da Grande Rio

Na Grande Rio, com “Nosso destino é ser onça”, a proposta de Gabriel Haddad e Leonardo Bora teve um bom desempenho nos quesitos plásticos inovando novamente nos materiais. A clareza do enredo, o samba e harmonia não deixaram a onça beber a água de mais um campeonato. Destaque aos felinos da alegoria da comissão de frente e o de Paola Oliveira, reinando na bateria.

A Imperatriz Leopoldinense, última escola a desfilar no domingo planejou seu desfile para o amanhecer. Vamos ver como as criações de Leandro Vieira se comportarão na luz noturna. Tomara que seja fixa, ou se altere suavemente. Os recursos do neon e da fluorescência acabarão cansando. Não precisa de búzios nem bola de cristal para chegar a essa conclusão.

Rute Alves e Julinho Nascimento, o casal campeão
A Viradouro encerra o sábado das campeãs, comemorando merecidamente seu terceiro título com “Arroboboi, Dangbé” e dando uma aula sobre a serpente, símbolo da vida, regeneração e recomeço nos cultos voduns vindos da Costa da Mina, na África. Uma aula. Mais uma lição das escolas de samba da cultura popular brasileira.


O desfile das Campeãs do RJ será transmitido no sábado, no Multishow a partir das 21:30h, horário de Brasília
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com

Clique no link para acessar o álbum do acervo carnevalerio.com



Studio na Colab55

8 de fev. de 2024

Pede que dá. Lá vem a emoção! 40 anos do Sambódromo da Sapucaí, por Valéria del Cueto

Pede que dá. Lá vem a emoção!

40 anos do Sambódromo da Sapucaí

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Uma série de muitas temporadas passa pela cabeça de quem testemunhou a revolução que a obra arquitetônica (construída em 120 dias pelo governador Leonel Brizola, incentivado pelo antropólogo Darcy Ribeiro e criada por Oscar Niemeyer no berço do samba carioca), produziu na manifestação que se transformou num dos maiores espetáculos de cultura popular da Terra. O desfile das escolas de samba da elite do carnaval, ano após ano, alcança milhões de espectadores ao redor do planeta.

A pista da Passarela do Samba é caixa de ressonância de temas explorados pelas agremiações em seus enredos trabalhados por meses a fio pelas comunidades da região metropolitana envolvidas na preparação da f(r)esta.

Paola Oliveira precisa de legenda?

Nesse período, que virou o século e ultrapassou o milênio, quantas vezes se decretou que “o samba sambou”? A festa se renova e adapta aos novos tempos.  Incorpora tecnologia, quebra barreiras de modismos e se ressignifica conforme a dança enquanto luta heroicamente para não perder sua essência, preservar a ancestralidade e preparar os futuros sambistas.

Furando a bolha - Entre muitas tentativas de atrair a atenção das novas gerações com o incremento de ações de marketing, que incluíram o lançamento das latinhas de cerveja homenageando as agremiações e a aposta maciça em conteúdos nas redes sociais, o que acabou sendo o agente catalizador que marcará o carnaval de 2024 e explodiu, como há muito tempo não se via, no pré-carnaval foi... um samba!

Campeã nas paradas de sucesso desde o réveillon, a composição canta as qualidades de um produto tipicamente brasileiro, o caju. Defendida performaticamente por Zé Paulo Sierra, exalta a fruta tropical e a irreverência numa letra cheia de picardia que tem, entre seus autores, o humorista Marcelo Adnet. O refrão chiclete da Mocidade Independente de Padre Miguel caiu na boca do povo pelo país afora!

Ensaios técnicos - Foi o caju que botou a Sapucaí para cantar já na abertura dos ensaios técnicos dos finais de semana de janeiro realizados, pra variar, em meio as chuvas que castigaram o Rio. Justiça seja feita: as tempestades que fecharam, por exemplo, a principal artéria metropolitana, a Avenida Brasil, não alagaram a Marquês de Sapucaí. Sinal que esse ano o dever de casa foi feito com antecedência e o sistema de drenagem de esgotos do local previamente limpo. Os sambistas molhados, mas não empoçados, agradecem!

Parangolé cenográfico - Na missão de se adequar às exigências das transformações tecnológicas de produção de mega espetáculos vamos para o terceiro ano de implantação da iluminação cênica da pista. Assim como na questão do gigantismo das comissões de frente, ainda não há unanimidade na utilização dos 570 refletores e todo o caríssimo aparato envolvido.

Nem todas as escolas vão aderir a utilização dos recursos disponibilizados. Caso da campeã de 2023, a Imperatriz Leopoldinense. Seu carnavalesco, Leandro Vieira, foi protagonista de uma das polêmicas pré-carnaval nas redes ao afirmar que a luz privilegia os carros alegóricos, mas esconde os sambistas e as fantasias criadas para contar o enredo.

Cig(Bai)anas da Imperatriz, o bi traçado na palma da mão?

Nos intervalos entre os desfiles a ambientação do sistema de iluminação deixa a pista parecendo “casa da luz vermelha”. Aquelas das currutelas do sertão profundo. Cansa. Vamos combinar que sua melhor utilização foi justamente quando ela se apagou, no ensaio técnico do Salgueiro, para que os vagalumes/lanternas dos componentes passeassem pela penumbra da floresta Yanomami do enredo Hutukara.

A fila anda e o que foi revolucionário há 40 anos ganha novos contextos. Algumas intervenções são absorvidas, outras ficam na pista. A nova geração que assumirá os destinos da LIESA, a Liga da Escolas de Samba, implanta a marca @RioCarnaval. Sob o comando do herdeiro de Anísio Abraão David, Gabriel, ela repagina a folia e delineia, mais uma vez, o avanço dos camarotes temáticos sobre as frisas da passarela.

O culto a ancestralidade garante a aposta: o futuro é o samba.

A pista, por enquanto, continua sendo território demarcado do povo samba. Corpo, voz, consciência e chão da essência de valor incalculável de uma das manifestações culturais mais relevantes do Brasil.

Domingo 11 de fevereiro

Quem abre os desfiles do carnaval 2024 é a Porto da Pedra, campeã do acesso. O carnavalesco Mauro Quintaes aposta no cordel do "Lunário Perpétuo - A profética do saber popular" celebrando seus ensinamentos e desdobramentos com Antônio da Nóbrega como guia do enredo da comunidade de São Gonçalo.

Também vem do nordeste o tema da Beija-Flor "Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila". Nilópolis chega com sua força máxima, capitaneada por Neguinho da Beija-Flor, os condutores de seu pavilhão, Selminha Sorriso e Claudinho, e a força de sua comunidade.

Na pista e nas arquibancadas, o protesto pela proteção aos indígenas


É "Hutukara" o grito de protesto do Salgueiro que o carnavalesco Edson Pereira faz retumbar na Sapucaí sobre a questão Yanomami. A comissão de frente de Patrick Carvalho promete impactar a plateia. Até o ator Leonardo di Capri já mencionou o enredo em suas redes sociais. Furou a bolha...

A Grande Rio em “Nosso destino é ser onça”, de Leonardo Bora e Gabriel Haddad, faz uma viagem antropológica pelo Brasil profundo. Vamos ver se a onça vem beber água na Sapucaí.

A onça, nossa conhecida, a protagonista do desfile da Grande Rio


"O Conto de Fados" da Unidos da Tijuca quer revelar em seu samba fadado, com grandeza e encantos, segundo o carnavalesco Alexandre Louzada, versos do pequeno imenso Portugal na voz de seu interprete Ito Melodia.

A Imperatriz Leopoldinense tenta o bicampeonato e fecha a noite de domingo falando do universo cigano no enredo "Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda". Sem luz cenográfica, já que Leandro Vieira pretende usar a luz do nascer do dia para valorizar a estética de sua proposta.

Segunda 12 de fevereiro

Quem abre a noite é Mocidade Independente com a sinopse tropicalista criada por Fábio Fabato e desenvolvida por Marcus Ferreira, “Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá”. Já vimos nos ensaios técnicos o efeito Zé Paulo Sierra e da Não Existe Mais Quente, a bateria de Mestre Dudu, nas arquibancadas da Sapucaí. Será um sacode. Todos torcem para que essa catarse se reproduza nos demais quesitos da escola. 

Tropicalismo, a aposta estética da Mocidade

Um Defeito de Cor”, enredo da Portela, é o ponto de partida de Antônio Gonzaga e André Rodrigues para criar a carta de Luiz Gama para sua mãe, protagonista do livro de Ana Maria Gonçalvez. Atenção às bossas da Tabajara do Samba, de Nilo Sérgio, com toques dos santos e a parceria inédita do casal de porta-bandeira e mestre-sala Squel Jorgea e Marlon Lamar.

Na Vila Isabel a reedição o enredo de “Gbalá: uma viagem ao Templo da Criação”, de 1993, criado por Oswaldo Jardim, está sob responsabilidade de Paulo Barros. Embalada pelo belo samba de Martinho da Vila que prega que é preciso resgatar o futuro e, para essa tarefa, só as crianças estão aptas. A Vila já fechou com a equipe atual para o carnaval 2025.

Sou da Vila não tem jeito: o amor declarado do ritmista

A dupla Annik Salmon e Guilherme Estevão com "A Negra Voz do Amanhã", homenageia Alcione. A cantora é fundadora da escola mirim Mangueira do Amanhã. Justa homenagem em vida da comunidade verde e rosa a uma incentivadora apaixonada da Estação Primeira.


A Revolta da Chibata, de 1910, é o ponto de partida da proposta de Jack Vasconcelos no enredo do Paraíso do Tuiuti, “Glória ao Almirante Negro!”. Pixulé puxa o samba de Moacyr Luz e a rainha Mayara Lima coreografa as bossas da Bateria Super Som, de Mestre Marcão, estandarte de ouro no último carnaval.

Markinhos e Mestre Marcão 
Quem fecha os desfiles do Grupo Especial é a vice-campeã de 2023, a Viradouro. Tarcísio Zanon explora o texto de João Gustavo Melo sobre uma divindade vodum, “Arroboboi, Dangbé” para, com a bateria de Mestre Ciça, a Rainha Erika Januza e o novo reforço Wander Pires, tentar o campeonato.

Viradouro e a divindade vodum cultuada na Bahia

Desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro

Domingo 11/02 - Porto da Pedra, Beija-Flor, Salgueiro, Grande Rio, Unidos da Tijuca, Imperatriz Leopoldinense

Segunda 12/02 - Mocidade Independente, Portela, Vila Isabel, Mangueira, Paraíso do Tuiuti, Viradouro

Transmissão TV Globo e Globoplay às 22h. Sugestão: comentários da Tupi.fm

Agradecimentos à @riocarnaval, Liesa, Riotur e, especialmente, ao povo do samba que faz a festa acontecer.

Studio na Colab55