Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Simples assim...

3 de dez. de 2009

Simples assim...

Durante algum tempo fiquei distante deste espaço. Não por outro motivo que não a necessidade. Voltei, mas antes fui buscar, ou recuperar o que foi deixado no passado, que é logo ali, logo depois da curva...
Peguei as velhas botas e me mandei para o mato. Um lugar encantado, cheio de mosquitos, algum asfalto e gente empenhada em seus afazeres. Ou seja, um paraíso real.
Eram muitas as opções, mas o meu esporte predileto é caminhar. Procurei visualmente a estradinha mais inha que podia achar e meti o pé.

A estradinha de chão se embrenhava serra acima, como o caminho desconhecido que nos leva a algum lugar surpreendente, para o bem ou para o mal.
Os sulcos abertos pelas enxurradas revelavam infinitas formas e cores minerais. A mata corria, ladeando em formação protetora, como um séqüito de reverência ao caminhante.

No primeiro patamar virei-me para dimensionar a jornada. À esquerda a enorme pedra riscada, marcada por listras brancas impressas pelas últimas chuvas, ajuizava séculos de mudanças, sobre as quais não teremos nunca a menor ideia. A minha frente o extenso vale matizado em dezenas de verdes, por onde deslizava sereno, o rio, em cuja superfície brincavam alegremente milhares de brilhos do sol.
Segui o caminho em silêncio respeitoso. Quilômetros depois vinha em minha direção um homem. Caminhava calmamente integrado ao meio. Vestia-se com simplicidade, chapéu de palha na cabeça e um pedaço de galho na mão. Estava descalço. Os pés cascudos se confundiam com as pedras e cascalhos da estrada. Seus olhos não tinham a ausência dos que se abandonam, ao contrário, estavam cheios de curiosidade, com lampejos de juventude recuperada. Cumprimentamos-nos e paramos naturalmente para uma breve troca de impressões. Perguntei o de sempre, onde ia dar aquela estrada? Quanto faltava pra lá? Quanto faltava pra cá?
Logo em seguida deu-se o seguinte diálogo:
- Você é daqui? - Perguntei.
- Não. Venho de longe. – Sua voz era serena e firme. Nada de ansiedade.
- Mora aqui?
- Vivo por aqui.
- E faz o quê? Tem terras?
- Tudo isso por aqui é meu. Seu também. Ando aqui e ali, percebo o que posso.
- Largou tudo e veio pra cá? - Perguntei com aquele meio sorriso de quem compreende e até tem vontade de cometer o mesmo, mas não tem coragem.
- Olha amigo - ele disse depois de correr os olhos pelo chão à sua volta, eu vim porque um dia descobri que já não me lembrava do som dos meus passos.

E com um aceno quase imperceptível se despediu e foi em frente.
Por alguns segundos refleti e entendi o longo caminho que teria pela frente. Dei então os primeiros passos prestando atenção aos sons e percebi uma harmonia que nunca havia ouvido.

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