Covardes

coluna de Rônei Rocha na edição de 17|09|10 --

Eu não tenho medo de bandidos, nem de psicopatas. Talvez pela sorte de nunca ter cruzado - que eu saiba - com algum deles durante o seu trabalho. Também não tenho medo de pessoas violentas, valentões, cafajestes, políticos corruptos e Cia Ltda. Cedo ou tarde eles apresentam as suas armas, não enganam a todos o tempo todo, então, mesmo que inconscientemente, acabamos nos defendendo, porque a sua natureza ou o seu comportamento lhes trai. Do que eu tenho medo, mas muito medo mesmo, é de um dos tipos mais perigosos e subestimados do planeta: o covarde. Não estou me referindo às pessoas que tem muitos medos ou são assustadas; que admitem isso e pedem ajuda ou simplesmente se negam a enfrentar as coisas que temem. Eu me refiro ao covarde que não tem coragem sequer para admitir os seus medos e não só evita enfrentá-los como também é capaz de, no desespero, tomar qualquer atitude para afastar-se deles. Até no cinema, por piores que sejam os vilões ou os monstros, na maioria das vezes eu os acho previsíveis, caricatos e até risíveis. Mas é só meter um personagem covarde no meio que eu roo as unhas até o filme acabar, porque ele é imprevisível e sempre pega o mocinho de surpresa. O que o torna especialmente perigoso é o fato de ele acreditar piamente ser uma vítima do que lhe atormenta, um verdadeiro injustiçado, então não o reconhecemos como um malvado e ele consegue voar abaixo dos nossos radares. Geralmente é uma pessoa inofensiva, mas se estiver em grupo e apoiado pelos demais tem a oportunidade de colocar para fora todos os seus recalques, e aí sai de baixo. Outro perigo é quando percebe que o causador do seu medo está em uma posição de fraqueza, vulnerável. Então ataca com toda a força, como sempre sonhou fazer. Também ama de paixão o anonimato, daria esse nome ao seu cachorro se não fosse denunciar-se. É o seu sonho de consumo, a invisibilidade ou uma máscara para poder atacar como bem quiser, sem correr o risco de receber um contragolpe. Talvez o leitor já tenha se apercebido que há muito mais homens do que mulheres covardes. É fácil compreender o porquê, afinal a nossa cultura impulsiona fortemente essa fuga. De que forma? Dizendo que homem que é homem não chora; aguenta a dor no osso do peito sem reclamar; não pode ganhar menos do que a mulher; não pode brochar, muito menos não ter vontade; não pode se deprimir, muito menos fazer terapia; tem que gostar de futebol e ao estilo viril; fazer aula de dança só se for pilchado; e que não existe mulher frígida, a culpa é do homem que é mau amante. Bem, vou parando por aqui, que só de escrever já deu vontade de me esconder embaixo da mesa.