Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Harley Roneidson

8 de ago. de 2011

Harley Roneidson

texto de Rônei Rocha para sua coluna no jornal Tribuna --



Algo de muito estranho tem acontecido comigo desde que eu completei uma tal idade. Ando tendo sintomas parecidos com aqueles animais selvagens criados em cativeiro que a gente assiste em documentários e filmes. Quando essas aves, lobos e afins escutam passar o seu grupo, querem se juntar a eles e sair voando ou correndo livremente por aí. Eu nunca tive um bando pra chamar de meu, nem time do coração eu tenho, mas agora sinto este estranho fenômeno de querer ir junto - vejam só que originalidade - quando escuto o ronco grave de uma moto. Não qualquer moto, mas uma das grandonas, tipo custom - para quem não conhece, eu explico: são aquelas usadas por homens que começam a ficar velhos e querem tentar recuperar a juventude, o que, obviamente, não é o meu caso. Talvez eu esteja sofrendo de alguma influência genética, já que o meu pai foi a segunda pessoa a ter uma moto em Livramento, lá pelos anos 1940. Talvez seja somente o meu corpo clamando por uma mobilidade muito além das nossas limitações naturais; sentir o vento nos cab… nos olhos; jorrar adrenalina na veia; ter nas mãos a força de muitos cavalos, fazendo a borracha derreter o asfalto; etc. Essas coisas todas que nós os motoqueiros fazemos e sentimos. Não ignorei o chamado, e já tomei a primeira providência: fui numa autoescola e estou aprendendo a andar de moto! Agora, bem a fim de radicalizar, ando flertando com orçamentos de umas lambretas e scooters. Por enquanto, esta crise de meia idade não está me preocupando; nem seria normal passar em brancas nuvens por datas importantes. Prudentemente, já pedi à família que caso eu deixe o resto de cabelo crescer e faça uma colinha ou alguma tatuagem, sejam compreensivos, piedosos, e me interditem rapidamente. Nossa vida toda ziguezagueia em torno de possibilidades e impossibilidades, e penso que só se é livre quando se pode escolher livremente, mesmo que a escolha seja por uma prisão. Às vezes literal. Eu me lembro do relato de foragidos que haviam cometido um crime e acabavam se entregando para poderem, mesmo na cadeia, voltar a se sentir livres. É a falta de liberdade de pensamento que, na maioria das vezes, provoca em nós um desequilíbrio e termina levando a muitas das doenças mentais. Posso agarrar uma moto e sair para desbravar o mundo, mas se eu não puder aproveitar para olhar esse mundo com outros olhos, ao invés de um cavalo de aço, vou ter uma gaiola com rodinhas. Acho que eu iria ficar doente se não pudesse brincar de motoca. Como tenho certeza de que as minhas sócias me darão autorização, de posse deste salvo-conduto, em breve estarei desbravando infinitas highways cheias de acelerações brutais; desafiando as leis da física nesta uma quadra e meia de casa até o consultório. Ou somente lavando a possante nos fins de semana. Com o motorzão ligado, claro, para poder curtir aquele ronco gostoso.

14 comentários:

Anônimo disse...

Pô Cara, como tu é conservador bróder. Tu tá falando isso não é porque tu tá fora da casinha. Tu tá falando bró porque tu qué mesmo um cavalo mecânico pá tu botá tua careca no vento manu. Vai nessa e não te culpa. Tu vai ve como bom e faz bem pra tosse. Bró tu é muito legal pá ficá te puliciando. O barato é melhor que Rivotril, pode crê.

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto.Enfim, conosco, um escritor de verdade e de muitas verdades; melhor ainda, em harmonia com as letras,acasalando-as de forma apropriada em palavras tradutoras dos an seios da alma que todos temos.

Anônimo disse...

Quanto pré-conceito, Rodney. Quem realmente tem no sangue a paixão por motocicletas não precisa ficar velho nem chegar a meia idade para sentir e realizar seu desejo de liberdade.

Você precisou ficar velho para ousar. Muitos preferem ousar antes de envelhecer..

O ronco que enlouquece não é de uma custom qualquer, que dessas já tive algumas. É o de uma autêntica Harley Davidson, com seu motor inconfundível. Essa sim, um símbolo de liberdade e personalidade. Pule a etapa das lambretas e scooters e parta logo pra ignorância, véio!

Ursula Kaercher disse...

Parabéns Rônei! Muito bom!
Devemos ser totalmente responsáveis pela vida que optamos ter!
Abraço,

Anônimo disse...

Li teu livro ontem, gostei muito. A crônica de hoje está deliciosa. TE DISSE QUE TENTEI APRENDER A SURFAR AOS 58. Dia 15, completo 60. Tu, pela média da tua turma, deves estar me passando. Aí já acho que é demais virar motoqueiro.

Bandeira

Anônimo disse...

Ronei, muito bom! Segue em frente que é muito bom ler ou ouvir gente com contúdo.
Que saúde mental!!!!!!!! É isto que somos, um animal apartado de suas entranhas, um animal aculturado, divinizado, aprisinonado. Passamos a vida nos submetendo e nos fletindo ao que esperam de nós. Nos tornamos bons filhos, bons pais, bons profissionais. Servimos à nossa cultura e sociedade. Um dia a liberdade bate em nossa porta e vem cobrar a conta, com juros e correção monetária. Ela quer amar, voar, se apaixonar, encontrar sentido. Enfim, ela quer se misturar a nós de tal forma que já não haja distinção entre ela e nós. É assim com a moto e o motoqueiro como com o cavalo e o caveleiro, ambos formam uma unidade e o ronco da moto ou o relinchar do cavalo são o grito de liberdade que contemos em nós pelo excesso de cultura mas que o cavalo expressa com toda a sua natureza instintiva e verdadeira.

Compra a moto e não precisa da licença das sócias. Liberdade não pede licença . ela se impõem.

Abraços

Angela L.Vieira

Anônimo disse...

Compra uma Harley Fat Booy Special. O melhor dela: não tem banco de carona!

Anônimo disse...

Vende-se uma HD Fat boy 2011-2011.

Anônimo disse...

ronei lets ride

Anônimo disse...

vendo um banco de carona para uma HD fat boy, faço test-drive

Guri gordo disse...

Será que um dotor, um homem tão bem informado não sabe que é motociclista e não motoqueiro? Bem se vê que ta de gracinha e não entende do cortado.

Anônimo disse...

Tô com o guri gordo. Motoqueiro usa motoca, motociclista é profissa!

Lia Assis Brasil disse...

Mano, dizer o que, meu orgulho é maior que tudo que eu possa escrever.
beijo!
Lia

Anônimo disse...

RÔNEI TU ÉS BÁRBARO!!!ADORO TUAS CRÔNICAS.GRANDE ABRAÇO CARÍSSIMO DOUTOR.