Obrigado. De nada.

coluna de Rônei Rocha, na edição do dia 06.08


Estive em um recesso do trabalho na semana passada (é só médico dizer que vai tirar férias e logo ouve: "Não vai fazer algum curso, não?"), e nesses períodos costumo participar de cursos intensivos, um de degustações variadas, e outro de relações sociais, ambos com muitas aulas práticas. Coisa que amiúde não experimento, talvez devido a minha rotina, basicamente indo sempre aos mesmos lugares, convivendo com gente conhecida. Então subindo em ônibus, aviões, muitos táxis, muitas filas, restaurantes, comércios; nos quais ninguém te conhece, é uma ótima oportunidade de sentir a educação das pessoas. Pois notam-se muito claramente os dois universos paralelos, o dos que foram bem educados e o dos que não foram. No dos com educação a comida fica mais saborosa, o passeio mais agradável, as pequenas falhas se tornam irrelevantes e facilmente perdoáveis. Uma vendedora teria que obrigatoriamente ser muito bem treinada (pelo menos num negócio que pretende dar certo e não vende água gelada no meio do Saara), mas se ela tiver simpatia e educação, me faz comprar até aquela coisinha que eu há muito tempo não precisava. Nem tenho que descrever o oposto que ocorre no universo dos sem educação, pois todos já conhecemos bem demais. Claro que não me refiro aos que não tiveram sequer a sorte de receber um ensino fundamental. Mas a questão aqui é sobre o trabalho que dá para criar uma pessoa bem educada. Trabalho mesmo, pesado, que em outros países, junto com a lida da casa, pode contribuir para a previdência. Repetir um milhão e duzentas mil vezes que seria melhor fazer assim e não assado, que fica feio agir de tal forma, que ninguém gosta de ser tratado deste ou daquele jeito. Proibir, vestir a carapuça de chato, assumir responsabilidades. Gente, isso está totalmente em desacordo com as atuais regras do bem viver, da felicidade ampla, geral, irrestrita e contínua. Problemas? Precisamos evitar, ou na pior das hipóteses enfrentar da maneira mais fácil, rápida e de preferência definitiva. Pensar mais em nós mesmos. Pois então, o rebento está insistindo que precisa sair com os amigos, apesar das notas ruins e de ter prova amanhã? Deixa sair! Pra que te estressar. Quer porque quer comprar alguma coisa? Arranja logo o dinheiro. O professor discutiu com ele? Reclama pra direção. Afinal a escola não está ali e o professor sendo pago pra educar o seu filho? Relaxa e aproveita a vida... enquanto o pimpolho não cresce.


RÔNEI ARAÚJO DA ROCHA