Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: junho 2024

19 de jun. de 2024

Minhas regras - crônica de Valéria del Cueto



Minhas regras

Texto e foto de Valéria del Cueto

Estou enrolando, pra variar. Se tenho um motivo, o prazer de abrir um novo caderninho para rabiscar as crônicas do Sem Fim, outras razões me levam a procurar uma rota de fuga da atividade e da realidade.

A troca de caderninho é a passagem que os leitores fiéis já a reconhecem de outras leituras. Acontece graças ao costume de escrevinhar textos que começou a surgir nas areias da praia do Leme, sempre às sextas, há uns 20 anos atrás). A “Ponta do Leme” foi a primeira série que surgiu, seguida de outras tantas definidas, inicialmente, geograficamente. O “Parador Cuyabano”, a “Fronteira Oeste do Sul” e a sempre abastecida “É Carnaval” estão sendo chuleadas há décadas (ui).

Raramente troquei o caderninho pelo teclado do computador. Não é a mesma coisa. O pensamento flui numa velocidade diferente. Daí eles vão se acumulando, ocupando um espaço considerável na estante. E sabe que me apego ao caderno da vez? Quando vejo que estão chegando ao fim a letra vai diminuindo na intenção de prolongar nossa convivência. Já houve caso do vazio ser tão sentido que falhei na periodicidade evitando a realidade da troca de companheiro. O inevitável a não ser no dia que encerrar a saga do Sem Fim.

Trocar o caderninho demanda adaptações. Passei por vários modelos e formatos. Uns foram espirais, outros não. Sempre capa dura. Maiores ou menores, mas nunca grandes ou pesados demais. Têm que caber nas bolsas. Uns tinham pautas, outros não. Nesses, as linhas imaginárias formavam muitas curvas e poucas retas.

A única coisa que evito na escolha dos caderninhos é que as folhas sejam porosas, que os rabiscos vazem pra a página de trás. Sei a dificuldade que é decifrar o que escrevi na hora de preparar o material para enviá-lo aos parceiros que publicam as crônicas.

Apesar da angústia da busca do caderninho perfeito a chegada do novo companheiro é sempre um prazer. Por isso procuro inaugurá-lo com palavras e pensamentos otimistas e de alegria quando dá.

Esse é um caso que, infelizmente, não dá. Considere as razões que citei no início dessa conversa e as intenções do Sem Fim de manter um vínculo com a realidade.

Ela está horrorosa e piorou mais um pouco com as más intenções eleitoreiras do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Em busca de votos para fazer seu sucessor no comando da casa, ele cravou um regime de urgência, votado no tempo recorde de 24 segundos, no projeto de lei 1904 do deputado Sóstenes Cavalcante, do PL carioca, que prevê pena de 20 anos para a mulher que fizer aborto após 22 semanas de gestação, nos casos previstos em lei.

Se vamos dar nome aos bois, vale citar que o primeiro da lista dos fundamentalistas que aprovaram a urgência maladeta é o do candidato a prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini. Como Deus está vendo o tamanho dessa aberração espero que a manobra eleitoreira seja a pá de cal na sua pretensão.

Certamente, nenhum dos aqui citados imaginaram o tamanho da reação que a proposta esdrúxula geraria. O estuprador, um dos casos em que o aborto é permitido por lei, é condenado a 10 anos. A estuprada a 20! Foi um sacode na opinião pública. O mote “Criança não é mãe” virou um efeito cascata bombado, inclusive, pelas escolas de samba cariocas. Tão forte como a informação que a cada 8 minutos uma mulher é estuprada, segundo o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher.

E lá se foram as questões que deveriam estar sendo objetos de análise parlamentar enquanto, mais uma vez, a sociedade é jogada numa cruzada moral e ideológica em que o que menos importa é a nossa decisão pessoal,  a das mulheres, atingidas pelos rigores da lei xiita.

Pra mim, danem-se as leis. Sempre foi assim. Meu corpo, minhas regras. Na vida e aqui no novo caderninho fica o registro: NÃO AO PL 1904!

Boa sorte aos eleitores de Cuiabá e aos do Rio de Janeiro também. O Delegado Ramagem, candidato do PL a prefeito de lá, foi outro que votou pela urgência do famigerado projeto.

A campanha eleitoral já começou, infelizmente, com pautas que não dizem respeito às que deveriam ser a maiores preocupações dos futuros prefeitos, suas cidades e o bem estar das populações. A sociedade não merece regredir. Escolham com cuidado seus candidatos, eleitores.

O que for decidido irá para o caderno da História da capital mato-grossense, da Cidade Maravilhosa e é sua responsabilidade também!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Parador Cuyabano” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

5 de jun. de 2024

Notícias urgente - crônica de Valéria del Cueto


Notícia urgente

Texto e foto de Valéria del Cueto

Vai um tempo que não invado sua cela, cronista voluntariamente encarcerada do outro lado do túnel. Tenho meus motivos, amiga querida. Meus e seus...

De minha parte, como um extraterrestre impedido de ultrapassar essa camada magnética (há quanto tempo digo que esse é o problema, só agora anunciado aos 4 ventos pelos cientistas?), com as forças exauridas dessa já obsoleta nave interplanetária, resolvi me dedicar a tentar melhorar a visão humana sobre nós seres de outras galáxias que circulamos por aqui. É praticamente impossível assumir a tarefa hercúlea de mudar a opinião pública.

Essa, que hoje coloca os alienígenas no mesmo patamar das bruxas, exus, diabos e afins no imaginário popular. Pra maioria, assim como eles, estamos destinados às fogueiras. Eternas, segundo os apegados a algumas nefastas seitas religiosas, e reais se, possíveis fossem.

Ser diferente nesse mundo negacionista adepto da terra plana não provoca curiosidade. Gera medo e violência alimentadas em nome da “liberdade de expressão”. Aquela, que antigamente terminava onde começava a do outro, não tem limites nem barreiras.

Considerando a situação que me impede de picar a mula pra outros mundos, limitado que ainda estou a pluctplactear apenas entre pontos diferentes da Terra, me empenho em tentar mostrar as funcionalidades básicas dos seres extraterrestres infiltrado nas estruturas neurais das inteligências artificias, as AIs. Captou a porta aberta?

Estamos e ficaremos em voga! Anunciaram pelas onipresentes mídias sociais a existência de instalações planetárias de alienígenas numa galáxia vizinha. É pegar ou partir pra ignorância em relação ao que você, na sua reclusão, está cansada de saber. Não somos deuses nem diabos, somos astronautas incapazes de interferir no livre arbítrio que leva o mundo à sua condição atual, portadores dos alertas que advertem que o pior ainda está por vir, infelizmente.

Aí, chego aos seus motivos para nossa comunicação rateante. Cheguei a uma conclusão interesseira: mais vale um nocaute informativo que o sofrimento de más notícias em doses homeopáticas. Então, espero uma novidade boa para invadir sua janela pelo raio de luar. Essa janela quase se abriu no início de maio pra contar o que era a multidão que invadiu suas praias com o show da Madonna em Copacabana. Perdeu força quando vasculhei seus arquivos e encontrei registros do efeito Rolling Stones no mesmo local.

Considerei que teria de informar que o ano que vem seu esforço na fuga anual para fotografar o carnaval na Sapucaí terá que ser maior. Já vai pensando em como dar o perdido na vigilância por mais um dia. Agora, serão 3 noites de desfiles! Essa nem pode ser considerada uma má notícia. É apenas a novidade a qual você e muitos outros, como a freira carmelita que foge do convento em Santa Teresa pra brincar o carnaval carioca, terão que se adaptar.

O pior, que fez a balança pender e muito para o silêncio do seu amigo Pluct Plact, foi o que era pedra cantada, piorou durante dias seguidos de maio e está longe de acabar. Não vou fazer suspense e já adianto que informando que os seus estão todos bem! Dito isso, informo que o Rio Grande do Sul colapsou.

Não foi por falta de aviso, mas por omissão e ausência de prevenção. Chuvas torrenciais provocaram enchentes que arrasaram cidades. Tanto do lado leste do estado, com as piores consequências possíveis, quanto do lado oeste. Na bacia do Uruguai os danos foram mais controlados. Fizera melhor a lição. No caso de Uruguaiana, escolados nas enchentes de 1983. Você estava por lá, lembra?

Todo o país, quer dizer, parte dele, está se desdobrando para ajudar o povo gaúcho. Outra parte, essa nefasta, se dedica a gerar e distribuir fake News sobre a tragédia.

O resto você já sabe. O mundo quer brincar de guerra. Ucrânia e Palestina ampliam o tempo de seus conflitos globais enquanto pipocam outras rusgas aqui e acolá.

Chega, não é? Então vamos à novidade que desequilibrou de vez a balança e me fez enviar essa notícia urgente. O seu Flamengo goleou o sempre freguês Vasco da Gama no Maraca por 6 X 1. O maior placar dos confrontos entre os dois times!

Fala sério, não é uma boa razão para uma cartinha?

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55