O mundo tem fome (Editorial TRIBUNA, dia 20/06/2009)

Cada vez que o problema da fome é elencado, debatido ou apresentado com estatísticas alarmantes lembramos do ilustre sociólogo brasileiro, Herbert José de Souza, o Betinho. Pois, nesta semana, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), divulgou que, em 2009, como conseqüência da grave crise econômica mundial, um bilhão de pessoas que passará fome no planeta. Na história, teremos o recorde de 1,02 bilhão de subnutridos, afirma a FAO, agência especializada da ONU, em relatório sobre a segurança alimentar mundial.
O documento da FAO, apresentado em Roma, na Itália, com estimativas baseadas em um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a maioria das pessoas subnutridas vive em países em desenvolvimento, sendo que, quase 53 milhões de pessoas sofrerão fome em 2009 na América Latina e Caribe. O número chega a 642 milhões na Ásia-Pacífico, 265 milhões na África subsaariana, 42 milhões no Oriente Médio e África do Norte e 15 milhões nos países em desenvolvimento. Os subnutridos no mundo passou de 825 milhões no biênio 1995-1997 a 873 milhões de 2004 a 2006. Em 2008, a cifra caiu de 963 milhões a 915 milhões por uma melhor distribuição dos alimentos, mas a tendência se reverteu com o agravamento da crise econômica e financeira do fim do ano. Para a FAO, o objetivo fixado em 1996 na Cúpula Mundial sobre a Alimentação (CMA) de reduzir à metade o número de pessoas com fome não será alcançado.
A meta foi ratificada, no entanto, com o compromisso de ser atingida em 2015, em uma reunião da ONU em Roma em junho de 2008. Mas a redução da renda pela crise e os elevados preços dos alimentos foram devastadores para as populações mais vulneráveis. As estimativas da FAO confirmam a tendência desalentadora da última década para uma insegurança alimentar maior e revelam claramente o impacto da crise nas populações mais pobres do planeta. A desaceleração da economia mundial, que segue a crise dos alimentos e dos combustíveis e coincide em parte com ela, está no centro do forte aumento da fome no mundo. As conclusões da FAO foram publicadas três semanas antes da reunião de cúpula dos chefes de Estado e de Governo do G8, os oito países mais ricos do mundo, na cidade italiana de L'Aquila, de 8 a 10 julho. A crise econômica e suas repercussões, em particular na África, o continente mais afetado, estão na agenda da reunião. Na América Latina e Caribe, a única região que registrou sinais de melhora nos últimos anos, também foi comprovado um aumento (12,8%) do número de desnutridos. Até nos países desenvolvidos, a desnutrição se transformou em acentuada preocupação. O relatório completo sobre a insegurança alimentar no mundo será apresentado oficialmente em outubro. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, em inglês) informou que a metade dos 42 milhões de refugiados no mundo é formada por crianças ou adolescentes. A mobilização é a primeira arma social no combate a fome, sendo necessárias ações concretas, rápidas e eficazes.